Desenvolvimento agrícola: ainda o caminho mais curto
Em artigo, Ciro Antonio Rosolem, da Unesp e do CCAS, fala sobre as dificuldades e os desafios do País em relação à agricultura, como protagonista do desenvolvimento
O
índice Gini que mede a desigualdade de renda está estagnado no Brasil nos
últimos três anos. Este é um dos grandes problemas brasileiros. Apesar do que
alardeia o governo, os programas de transferência de renda não têm mais sido
suficientes para melhorar a desigualdade no País.
Segundo
especialistas, a desigualdade não diminui porque faltam empregos. Emprego
significa renda, significa diminuição na desigualdade. Assim, é urgente a
criação de oportunidades de trabalho. Há muito se sabe que a agropecuária é a
atividade econômica que mais gera emprego por unidade de capital investido. Por
exemplo, gera, para o mesmo investimento, quase o dobro dos empregos que a
construção civil. Não é pouco.
Quando
se fala de desenvolvimento social e humano, junto com o índice de Gini, é
interessante olhar para o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em
conta a renda, educação e saúde. Comparando-se o IDH da FAO/ONU de 1990 com
2010 em algumas regiões brasileiras pode-se ter uma ideia de como o desenvolvimento
agropecuário melhora a vida das pessoas.
Nos
estados com agricultura mais tradicional – como São Paulo, Paraná e Rio Grande
do Sul – o IDH passou, em média, de 0,542 para 0,759, com um crescimento de
40,3 % nos últimos 20 anos. Em estados que sofreram uma segunda onda de
crescimento agropecuário – como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul – o
IDH passou, em média, de 0,484 para 0,732, com crescimento de 51,1% no período.
Já nos estados de desenvolvimento agropecuário mais recente, nos últimos 20
anos, o IDH passou de 0,448 para 0,725, com crescimento de 69,1%.
Enquanto
isso, o Brasil teve o IDH crescendo 46,9%, de 0,490 para 0,720. Considerando-se
38 municípios com grande influência agrícola no Brasil, 15 deles tinham IDH
muito baixo em 1990, e não havia municípios agrícolas com IDH alto ou muito
alto. Em 2010 não havia mais, entre estes municípios, IDH muito baixo, 29 deles
tinham IDH alto e três mostravam IDH muito alto. Fica assim patente o grande
impacto do desenvolvimento agropecuário na sociedade como um todo.
E o
que se espera para o futuro próximo? A posição dos economistas é praticamente
unânime: dificuldades, pouco dinheiro e pouco crescimento. No mundo todo e,
particularmente, no Brasil. Como driblar essas dificuldades? Com geração de emprego
e renda.
A
agricultura brasileira só não é mais competitiva por razões sobejamente
conhecidas: infraestrutura, logística, restrições ambientais, política
tributária, política trabalhista, seguro rural e insegurança jurídica estão
entre as principais. A retirada de alguns destes obstáculos fará com que, mesmo
com preços internacionais menores, nossa agricultura continue como protagonista
do desenvolvimento brasileiro.
Senhores,
o caminho para fora do buraco é conhecido. Quem se habilita?
* Ciro
Antonio Rosolem, é membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável
(CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).
Fonte: www.souagro.ccom.br