segunda-feira, agosto 20, 2012

Brasil importa quase totalidade da pera consumida


A comercialização de pera no Brasil é fortemente dependente de importação, podendo atingir até 90% da fruta fresca consumida. O plantio de cultivares de baixa qualidade tem favorecido a importação de peras finas, principalmente da Argentina e do Chile.

Da Argentina é importada mais de 85% da pera europeia consumida no Brasil. O total de importação, em 2009, foi de 161.875 t, e em 2010 de 189.840 t, representando uma perda de divisas de 134,8 e 161,9 milhões de dólares, respectivamente.

As importações se caracterizam, essencialmente, por peras do tipo europeia, sendo que as do tipo asiático têm sido importadas em pequenas quantidades do Chile.

Oferta x demanda

A pera apresenta algumas contradições no Brasil, tanto em relação à produção quanto ao consumo. "Trata-se de uma das principais culturas de clima temperado, sendo a terceira mais consumida e a mais importada, justamente porque não existe uma produção nacional expressiva. Hoje ela se mantém em pouco mais do que 10% das necessidades de consumo, e por isso quase toda a pera disponível nos mercados brasileiros é de fora", lamenta José Francisco Martins Pereira, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Clima Temperado.

Segundo ele, o consumo atual no Brasil supera as 150 mil t/ano, e a maior parte das frutas vem da Argentina, EUA, Portugal, Uruguai e Chile, com pequenas variações na oferta de ano para ano, em função das regras de mercado. A expectativa de consumo interno são ainda mais promissoras, podendo chegar facilmente a 300 mil t/ano. Há, portanto, um grande espaço para se produzir pera no Brasil.

Ao longo dos anos, foram realizadas introduções de cultivares, principalmente do tipo europeia, de grande valor comercial, porém os resultados não foram bons, devido a problemas de baixa taxa de transformação floral, elevado índice de abortamento de gemas florais em cultivares de média necessidade de frio e indefinição de porta-enxerto.

Mesmo quando ocorre bom índice de formação de flores, a frutificação efetiva é baixa, devido a problemas de polinização. "Contudo, algumas iniciativas de produtores vêm demonstrando que é viável a produção de pera no Brasil, inclusive alcançando rentabilidades superiores à obtida com macieira, visto que a maçã nacional já atingiu o limite da demanda do país. Produtores que investiram na cultura têm tido bom retorno econômico, mesmo com baixa produtividade, até mesmo por meio da utilização de cultivares de baixa qualidade, como Kieffer, Le Conte, Garber etc. Isso se deve a pouca oferta de pera no mercado consumidor", avalia José Francisco.

Uma pereira pode produzir, em média, 45 kg de frutos por ano, podendo chegar, em alguns casos, a 140 kg/ano. A produção torna-se comercialmente atrativa após o quinto ano. Após a colheita, os frutos devem ser armazenados sob refrigeração, para uma melhor conservação, apesar de se manterem bem, sem refrigeração, por até 20 dias.

Variedades

São três os tipos de pereiras cultivadas comercialmente no Brasil. A Pyrus communis, conhecida como europeia ou manteigosa, é a mais cultivada no mundo, sendo considerada a mais deliciosa das frutas, combinando textura sucosa e manteigosa com a insuperável fineza de sabor e aroma. A Pyrus pyrifolia, também conhecida como pera asiática, oriental ou arenosa, surgiu independentemente no Japão e na China. Produz frutas de forma redonda oblata de textura crocante, sucosa, doce, com bom sabor e pouco aroma. E finalmente a híbrida, em geral resultante de cruzamento entre a europeia e a asiática, que é a mais plantada no Brasil, e produz frutas de forma piriforme a oblonga, de textura entre manteigosa e crocante, com qualidade aceitável.

Exigências climáticas

O pesquisador José Francisco informa que as cultivares de pereiras europeias são mais exigentes em frio e recomendadas para os altiplanos dos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. Devem ser colhidas ainda meio verdes e completar a maturação em câmaras frias.

As cultivares de pereiras asiáticas são menos exigentes em frio hibernal e também recomendadas para os altiplanos dos três estados sulinos e algumas regiões, como da fronteira gaúcha, região de Curitiba etc. Devem ser colhidas maduras, exigindo cuidados especiais no manuseio.

As cultivares de pereira híbrida são de menor exigência em frio, variando de menos de 200h a 400h, sendo cultivadas do Rio Grande do Sul até São Paulo e Minas Gerais. Em geral são bastante rústicas, de fácil manuseio e com boa tolerância a doenças.

Desenvolvem melhor sabor quando completam a maturação em câmaras frias, à semelhança das europeias. As frutas têm sabor e textura peculiares entre as europeias e asiáticas, sendo bem aceitas pelo consumidor brasileiro. Elas devem ser preferidas pelos agricultores de base familiar, uma vez que não exigem grandes investimentos.

Implantação

A implantação de um pomar de pereiras requer um cuidadoso exame da infraestrutura existente e das condições ambientais. "É importante que o produtor atente para algumas regras básicas, tais como: escolha do terreno, espaçamento, marcação do pomar e conservação do solo, formação de quebra-vento, prevenção ao ataque de lebres, plantio, distribuição de polinizadoras, manejo do solo, esladroamento e desfranqueamento", recomenda José Francisco.

O clima, o solo e sua topografia são fatores igualmente determinantes. A cultivar é um importante componente do sistema de produção e um dos poucos que pode ser modificado sem que se altere o custo de implantação do pomar.

A adoção de determinado sistema de plantio e das práticas de cultivo do solo durante a fase vegetativa da planta será sempre dependente da topografia, do tipo de solo e do regime pluvial. Práticas culturais, como poda, por exemplo, requerem conhecimentos relativos à própria planta, à cultivar e aos objetivos a serem alcançados.

Em geral, os solos dos estados sulinos do Brasil são ácidos e de baixa fertilidade natural, por isso, antes da implantação do pomar, o pesquisador da Embrapa Clima Temperado indica fazer uma análise do solo, com coleta a profundidades de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm. Além disso, José Francisco recomenda aplicar calcário dolomítico pelo menos três meses antes do plantio para corrigir o pH para cerca de 6,0, corrigindo também as deficiências de magnésio (Mg), fósforo (P2O5) e potássio (K2O).

FONTE: REVISTA CAMPO E NEGOCIOS

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